Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas mostrou que aproximadamente 49 milhões de brasileiros passaram para as classes A, B e C no país entre março de 2003 e maio deste ano. Esses números representam um crescimento de 47,94%. Quando se fala apenas em classe C, os números são ainda mais animadores: 39 milhões de novos integrantes no mesmo período, com 32,5 milhões de pessoas deixando as classes D e E. O estudo mostra ainda que o crescimento da renda per capita do brasileiro foi de 1,8% acima da expansão do PIB (Produto Interno Bruto), considerado o melhor índice entre os emergentes.
De acordo com Torreta, a grande ascensão das pessoas à classe C mostrou, apenas, informações numéricas. “Nunca se falou sobre o perfil dessas pessoas. Até hoje, só ouvimos falar de números, porcentagens. Falta saber quem são essas pessoas”, afirma. Para André Torreta, as empresas precisam entender o que ele chama de ‘momento de vida’ dos brasileiros que ascenderam à nova classe social. “Antes, essa pessoa não assinava TV a cabo”. Hoje, ela já consegue ter o serviço em casa. Por outro lado, muitas delas têm dificuldade em ler as legendas de um filme com a velocidade que se exige. “Logo, vai aumentar o pedido por filmes dublados”, explica o especialista em classe C.
A adaptação, entretanto, não para por aí. Torreta garante que as empresas precisam repensar a forma de usar termos e palavras em português para facilitar o entendimento desse público. “Quando você chega a um aeroporto, a primeira palavra que se vê é ‘check in’. Muitas pessoas que começam a viajar de avião não entendem o significado dessa palavra”, exemplifica o publicitário. “O sonho dessa pessoa é ser tratada com dignidade, por exemplo, em uma loja ou em um restaurante. Além disso, o novo integrante da classe C é bem mais exigente em relação a qualidade dos produtos e serviços.”
O presidente do Grupo Doria e fundador do Lide, João Doria Júnior, também acredita que os integrantes da classe C estão muito mais exigentes. “Eles são assim pelo fato de ganharem dinheiro de forma gradual, pouco a pouco. E, por isso, zelam por esse dinheiro.” Segundo ele, para atingir esse público, toda estratégia de marketing deve ser baseada na verdade. “Baseando-se nisso, as empresas precisam pensar em mensagens corretas, em preços corretos e em uma comunicação clara. O segredo para conquistar esse público é sempre falar a verdade sobre o produto.” Ainda de acordo com Doria, a sustentabilidade também entra como um ponto decisivo na escolha de um produto ou serviço por parte da nova classe de consumidores. “As pessoas estão mais dispostas a consumir coisas práticas e funcionais e que tenham um posicionamento social. Em função disso, os brasileiros darão cada vez mais atenção aos produtos sustentáveis.”
Por André Fernando.